Hoje, segunda-feira, 19 de janeiro de 2015, irei quebrar a rotina de postagem do nosso Jornal Eletrônico. Farei, apenas, uma postagem falando da minha mãe, Dona Anita, que faleceu no início da noite do sábado (17) e foi sepultada na tarde do domingo (18), aqui em Vitória no Cemitério São Sebastião.
Por mais brilhante que eu possa ser, nas linhas que irei escrever doravante, ou até, quem sabe, infeliz nas minhas colocações, tenho absoluta certeza que minha mãe, Dona Anita, foi, e sempre será, muito mais do que poderei transmitir nestas linhas.
Mamãe nasceu em 03 de junho de 1932. Apesar de ser filha de um casal de vitorienses – Célio Meira e Alzira de Oliveira Valois – nasceu em Recife. Criada na Capital, mas sem nunca perder os laços com suas origens, mamãe viveu sua infância e adolescência entre Recife e Vitória.
Exercendo suas atividades profissionais no Recife, vovô Célio, era um vitoriense sempre presente no seu torrão. Mamãe nunca perdeu o vínculo com Vitória. Nas férias escolares e nas festas tradicionais, aqui estava a então jovem e muito bonita Anita Garibaldi.
Foi em um baile de carnaval, no Clube Abanadores “O Leão”, ao som da música Espanhola, no ano de 1945 que tudo começou. A jovem e bonita moça da capital se encantou pelo então matuto e vistoso, Zito Mariano.
Vale salientar que nesta época, de fato, existia uma grande rivalidade entre os simpatizantes do Clube “ O Camelo” com os do “ O Leão”. Papai, desde que nasceu, sempre foi “Camelo”, assim como seu pai, Zé Mariano. Certa vez, ainda na fase de namoro com mamãe, papai teve dificuldades para entrar na sede do “Leão” em um Baile Carnavalesco. Foi obrigado a recorrer a um membro da diretoria para poder ter acesso à festa. Tudo isso, claro, sob os protestos de seu pai, que não aceitava vê-lo ir brincar carnaval na sede do clube rival, mesmo que fosse, apenas para vê aquela que seria a mulher da sua vida.
Poderia citar inúmeras passagens curiosas ocorridas durantes o período de namoro e noivado entre papai e mamãe, que aliás, não foram poucas (5 anos de namoro e 5 de noivado). Durante todo este tempo papai morou em Vitória e mamãe no Recife. Para não me estender muito vou contar apenas dois fatos curiosos.
Vovô Mariano, pai de papai, sofria de asma, motivo pelo qual, vez por outra, era obrigado a enviar papai (Zito) a Recife para comprar um determinado remédio, oportunidade esta que papai não desperdiçava e aproveitava para ir ver mamãe, dizia papai em tom de brincadeira: “era bom quando papai adoecia”.
Outra ocasião, neste caso já noivos, vovô Alzira, mamãe de mamãe servia uma sopa no jantar, onde papai, em algumas vezes, por questão de educação, foi “obrigado” a repetir o prato várias vezes, mesmo sem gostar. Após casar, decretou que aquele tipo de sopa não poderia ser feita na sua casa.
Pois bem, eis que chega o de 21 de maio de 1955. Papai e mamãe, depois de 10 anos de convivência, chegam ao altar da Igreja da Boa Vista no Recife, para selar a união matrimonial. Deste dia em diante, mamãe passou a morar, definitivamente, aqui em Vitória.
O primeiro endereço de Seu Zito e Dona Anita foi na casa 113 da Rua Horácio de Barros. O primeiro filho não sobreviveu ao parto, motivo pelo qual todos os outros – o que não foram poucos – ocorreram na cidade do Recife. Neste endereço papai e mamãe residiram até o nascimento do quarto filho (Toco). No início da década de 1960 se mudaram para a Avenida Silva Jardim 209, onde viveram até os derradeiros dias de vida.
É quase impossível falar de mamãe sem falar de papai, os dois se completavam. Papai era mais maleável no tratamento com as pessoas e mais comunicativo. Já mamãe, era menos participativa com o mundo exterior e portadora de uma personalidade forte que em certo momento beirava a intransigência, no entanto, na criação dos dez filhos soube dosar um pouco de tudo e sempre conduzia todos a um consenso.
Apesar do temperamento forte, mamãe procurava praticar a virtude da compreensão. Tinha, como poucos, um senso de justiça amplo, mesmo nas coisas mais simples. Responsabilidade era uma das suas marcas, todo acerto haveria de ser, indiscutivelmente, cumprido.
Na Anita conciliadora, encontrávamos uma pessoa que não gostava de divergências. Na criação dos filhos introduziu uma frase que era sua cara: “não briga dois, quando um não quer”.
Mamãe não gostava de festa e de vida social, situação diametralmente oposta a de papai. Quando entrava em um carro para ir a um compromisso social, vez por outra dizia: “ num era tão bom que a gente já estivesse voltando”….e depois dava uma risada…..Frase essa sempre retrucada por papai.
Mamãe sabia como poucos se colocar no lugar dos outros. Nas festas tradicionais liberava as empregadas domesticas da casa dizendo: “todo mundo tem família, ou vocês (com os filhos) acham que só é natal pra vocês”?
Na Anita caridosa, sempre procurou ajudar as pessoas menos favorecidas, sobretudo as que lhe procurava. Certa vez “arrancou” de todos os filhos e parentes mais próximos contribuições para a construção de uma casa para uma antiga empregada que já estava velha e desamparada. Como participante do LIONS CLUBE da Vitória, mamãe sempre teve atuação significativa nas promoções filantrópicas da instituição.
Quando os filhos cresceram, casaram e foram morar nas suas casas, mamãe, sob protestos dos filhos, sob vários pontos vista, abria a sua residência diariamente para servir almoço a um “sem números” de “meninos de rua” criando, inclusive, uma sala de aula na garagem de casa para alfabetiza-los e baixou o seguinte “decreto”: só vai almoçar e lanchar quem assistir as aulas”. Todos, apesar da vida mundana, a respeitava e a obedecia.
Este, portanto, foi um pouco do perfil da minha mãe até ser acometida, no ano de 2007, de uma isquemia cerebral que lhe levou a cadeira de roda e depois para cama. Valendo salientar que após a morte do meu irmão, Geraldo, vítima de um acidente automobilístico no ano de 1979, mamãe nunca mais foi a mesma, naquela ocasião, ela foi acometida de uma forte depressão, levando anos para reerguer-se.
A minha relação pessoal com mamãe, não poderia ter sido melhor. Fui sempre – como ela falava – “o caçulinha da mamãe”. Tenho absoluta certeza, dos dez filho que pariu e criou, que algum possa dizer alguma coisa de mamãe que não seja só elogios.
Portanto, a liturgia natural da vida – que é filho sepultar pais – foi feita. Nos últimos dias de vida da minha mãe pude testemunhar de perto seu calvário e sua dor. Deste modo, assim como falei no anuncio da sua morte aqui pelo blog, MAMÃE DESCANSOU.
De maneira, que tudo que aqui escrevi, por melhor que tenha sido, ainda é muito pouco para expressar tudo que mamãe representou para todos nós. Certamente, no capitulo – Vovó Anita – os netos deverão escrever que tiveram a melhor avó do mundo, pois, se como mãe ela foi completa, como avó foi impecável.
Sendo assim, encerro este artigo especial agradecendo a todas as pessoas que compartilharam da nossa dor, que compareceram ao funeral, assim como aos que emitiram palavras de carinho e acolhimento, pessoalmente, por telefone, mensagens de textos e de voz. Muito obrigado a todos.