Na semana passada, enquanto caminhava pelo centro da cidade me deparei com uma passeata. Fiquei curiosa para saber qual era a bandeira defendida por aquele grupo. Vi que o grupo caminhava cantando canções nas quais expressava um posicionamento contrário à violação de direitos sofridos pelas crianças. Gritavam repetidamente: NÃO À EXPLORAÇÃO SEXUAL DAS NOSSAS CRIANÇAS!
Ignorando as reclamações dos que passavam, as buzinas dos motoristas que estavam insatisfeitos, porque a Avenida Conde da Boa Vista estava engarrafada, entrei no túnel do tempo e comecei a pensar na minha infância: brincadeiras, as mais diversas, na rua; passeios ao sitio do meu avó, no engenho Bento Velho; ida à escola em grupo com outras crianças sem correr riscos… Parece um tempo tão distante.
Quando criança sempre que encontrávamos um idoso, pedíamos a benção; se por acaso estivéssemos perdido, poderíamos pedir a ajuda de pessoas adultas que fariam todo o esforço para nos entregar aos nossos pais. Lembro-me uma vez que desobedeci minha mãe e saí do lugar no qual ela me deixou por alguns minutos e chorando disse a uma mulher: eu quero minha mãe e ela disse – sim, vamos procurá-la.
Mas, nos dias atuais, as crianças que deveriam ser protegidas pelos adultos, tornam-se vítimas desses. Estão vulneráveis a abusos e exploração sexual ou ainda podem cair nas garras de um pedófilo. A Organização Mundial de Saúde (OMS) entende que os pedófilos “são pessoas que têm um transtorno de sexualidade, uma doença, que consiste na preferência sexual por meninos ou meninas pré-púberes ou no início da puberdade”. Já os abusadores e exploradores sexual são criminosos. Fica evidente que as crianças precisam ser protegidas.
Recentemente assistindo a um documentário com representantes de alguns povos indígenas algo me chamou atenção quando um deles falou: – Na aldeia as crianças sabem quem são seus pais, mas nós entendemos que elas são nossas, então toda tribo deve protegê-las.
Acredito que precisamos ser tomados pelo sentimento de que as crianças são nossas, e por isso devemos protegê-las. Tem crescido na sociedade um sentimento de individualismo muito grande. A lógica de cada um no seu quadrado não tem nos fortalecido, ao contrário, tem nos deixado expostos e gradativamente temos perdido o sentimento de coletividade. Precisamos urgentemente resgatar o sentido de nós. Pois entendo que existem situações que só poderão ser enfrentadas e superadas se juntos estivermos. Não podemos ficar quietos enquanto crianças estão tendo sua infância ameaçada e, às vezes, ceifadas por pessoas adultas.
Segundo dados do LACRI (Laboratório de Estudos da Criança, da Universidade de São Paulo), mais de seis milhões de crianças sofrem abuso sexual todos os anos no Brasil. A maior parte dessas crianças é do sexo feminino. E o mais grave, esse adulto pode ser alguém muito próximo ou ainda, alguém que se aproximará através das redes sociais na Internet.
Precisamos enquanto sociedade apontar saídas que possam transformar essa realidade de violência sexual cometida contra crianças e adolescentes. As organizações presentes na passeata demandavam pela eficácia das políticas públicas que são na contemporaneidade o meio para garantia da proteção integral das crianças brasileiras.
De acordo com a socióloga Graça Gadelha em entrevista a Andi – Comunicação e direitos, outra saída seria “comprometer principalmente as áreas da educação e da saúde para um trabalho preventivo, melhorar as condições de funcionamento dos Conselhos Tutelares, estruturar os sistemas penitenciários e conscientizar a população sobre o assunto são algumas medidas que certamente podem contribuir para o alcance de um objetivo maior – a proteção integral de nossas crianças e adolescentes!”.
Diante da questão: Quem cuidará das nossas crianças? Do meu ponto de vista esta é uma tarefa da família, do Estado e de toda sociedade.
Até a próxima.
Valdenice José Raimundo
Doutora em Serviço Social
Docente na Universidade Católica de Pernambuco
Líder do Grupo de Estudos em Raça, Gênero e Políticas Públicas – UNICAP
Coordenadora do Projeto Vidas Inteligentes sem Drogas e Álcool – VIDA.
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