AS PROCISSÕES – Dentre as procissões tradicionais realizadas na paróquia de Santo Antão destacavam-se as procissões quaresmais, promovida pela irmandade das Almas.
Antigamente eram cinco: a do Bom Jesus dos Aflitos, a dos Passos, a dos Enfêrmos, a do Entêrro e a da Ressurreição.
Sobre a primeira encontramos apenas uma referência em notícia publicada em “O Lidador” de 24 de março de 1900, assim redigida:
“Devendo sair da Igreja Matriz dessa cidade, terá lugar amanhã (domingo), às 5 horas da tarde a tradicional procissão do Senhor dos Aflitos que percorrerá as ruas de costume.”
A procissão dos Passos realizava-se na Sexta-feira anterior a Semana Santa.
Na véspera, à noite, o andor do Bom Jesus dos Passos, completamente encoberta ou velada a sai imagem, era conduzido em procissão silenciosa, da Matriz de Santo Antão para a capela do Livramento, acompanhado pelas irmandades com os brandões acesos, vestidos homens e mulheres de preto.
Era a procissão do Encêrro ou da Trasladação, a que o povo chamava “a Fugida”, ou Fuga.
Na sexta-feira seguinte, à tarde, reuniam-se os homens no Livramento, e as Mulheres, na Matriz de Santo Antão, e organizavam dois préstitos: o dos homens, conduzindo o andor do Bom Jesus, agora descoberto, a percorrer os Passos ou estações da “Via dolorosa”; o das mulheres, levando o andor da Virgem da Soledade, saindo este pouco depois daquele, a encontrá-lo na Rua Imperial, porque o trajeto era menor.
Os passos, diante dos quais parava a imagem do Bom Jesus, eram em número de sete e ficavam: o primeiro, à porta lateral da Capela do Livramento; o último, à porta lateral da Matriz de Santo Antão; e os cinco intermediários, nos Nichos, arremedos de santuários ou altares cavados na parede, nos quais se conservavam quadros representativos de episódios da Paixão de Cristo.
Esses nichos, hoje desaparecidos, estavam localizados: o do segundo passo, na antiga Rua da Paz, hoje Rua Rui Barbosa, entre a casa de nº 62 e o terreno que lhe fica à esquerda, pertencente à casa de nº 76; o do terceiro passo, à antiga Rua do Barateiro, hoje Rua André Vidal de Negreiros, onde se encontra a casa de nº 80; o do quarto passo, na antiga Rua Imperial, também conhecida por Rua do Meio, no local onde hoje se encontra a casa de nº 67; o do quinto passo, na antiga Rua do Teatro, hoje Rua Barão da Escada, no oitão da casa de nº 47, (cuja frente dá para a Rua Dr. José de Barros), e o do sexto passo, ainda na Rua Imperial, no local hoje ocupado pela casa de nº 153.
Era diante deste último que se dava o “encontro” da imagem da Virgem com a do Bom Jesus, havendo, então, um sermão alusivo ao ato.
Diante de um dos passos, onde o quadro lembrava a cena em que Jesus caiu sob o peso do madeiro, os homens que conduziam o andor simulavam uma queda, recuando um pouco e depois caminhando apressadamente em direção ao nicho, diante do qual se ajoelhavam parcialmente os que iam à frente.
Diante das estações ou passos, demorava-se um pouco o andor principal, enquanto eram recitadas algumas preces, em voz alta, e entoado um ligeiro cântico rememorando a cena contemplada.
O povo assistia a todos esses atos com muita unção e profundo respeito até o recolhimento dos andores à Matriz de Santo antão.
(REVISTA DO INSTITUTO HISTÓRICO DA VITÓRIA DE SANTO ANTÃO – VOL. IV – 1968 – pág. 27 a 29).